É um facto que o panorama da
Arquitectura tem vindo a alterar-se por um conjunto de factores evidentes e
reconhecíveis por todos.
Num muito curto espaço de tempo,
Portugal tornou-se num dos países com maior densidade de arquitectos em toda a
Europa e em que a esmagadora maioria dos profissionais está sediada em Lisboa e
Porto. Para além disto, predomina a escassez de concursos e de obra pública a
nível nacional, com a consequente repercussão na indústria da construção e do
mercado imobiliário. Sucede ainda que o sistema de ensino tem estado até ao
momento muito dedicado à ideia de arquitecto-autor, o que gerou um manancial de
falsas expectativas em relação à profissão por parte de quem frequenta e
conclui este curso. Paralelamente, existem questões sobre más práticas e pobres
condições laborais, seja entre empregador e empregado, seja entre cliente e
ateliê, que, convém dizê-lo, não são exclusivas da arquitectura.
A verdade é que redefinir a
profissão tornou-se vital. O papel do arquitecto na sociedade pode e deve ser
alargado. O arquitecto deve adoptar um papel mais estratégico e político do que
tem assumido até aqui. É necessário um novo olhar e uma distância crítica
perante a profissão. É preciso formular e lançar novas questões, mais
assertivas e operativas, quanto à actuação e ao potencial do arquitecto
enquanto profissional.
Reforma no ensino
Tenho assistido a algum
conservadorismo acrítico perante as necessidades e potencialidades do
território nacional, um domínio onde devemos ser mais acutilantes e tirar
partido das situações em jogo.
Enquanto arquitecto detentor de um
pequeno ateliê e membro eleito da Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos
(OASRS) a desempenhar funções na área a que chamamos de Formacultura,
confronto-me todos os dias com a realidade de estar nos dois lados da
barricada.
Num momento em que o importante é
abrir o debate e alargar a discussão, a OASRS tem procurado abordar temas que
considera pertinentes, como a internacionalização, a descentralização, o
trabalho em equipas "crossover" e multidisciplinares com o objectivo
de chegar a novos nichos de mercado ou ainda as profissões dentro da profissão.
Mas existem muitos outros temas importantes, como a falta de empreendedorismo,
sobretudo decorrente de um método de ensino classicizado ou a constante
replicação de modelos de negócio que já expiraram o prazo de validade.
É importante motivar uma reforma no
ensino. Falta promover no universo académico um caldo laboratorial rico em
ideias que vá muito além da disciplina do desenho e da construção e falta
também promover uma clara consciência do mercado de trabalho cada vez mais
dinâmico em que estamos inseridos.
E, sobretudo, é preciso fazer muita
pedagogia. O trabalho do arquitecto em Portugal continua a ser profundamente
incompreendido e muito desvalorizado, apesar da nossa privilegiada colecção de
Pritzkers.
Não
podia deixar de publicar aqui no blog este texto. Concordo e subscrevo tudo o
que aqui está escrito!